quinta-feira, 18 de junho de 2009

LUCIANO FRIGEIRO NO MuBE CONVERSANDO COM LÍBANO CALIL ATALLAH






LUCIANO E WHISKY (FALECIDO)

LUCIANO FRIGEIRO Prezado leitor, vejamos com toda nossa atenção tudo o que nos conta esse italiano de Milão que veio ao Brasil por conta da decisão seu pai.
No domingo 7/06/2009 havia muito sol nos jardins do Museu Brasileiro da Escultura, o MuBE, claro que isso não ajudava em nada pois que o frio já comia a pele da gente impiedosamente, dado que em nada ajudava os agasalhos.
Estava dito pela natureza dos acontecimentos, divinamente selados, que seria com meu amigo milanês que executaria a tarefa de entrevistar alguém naquele dia. Não deu outra foi de pronto que ele me atendeu se dispondo a falar. Não que tenha começado bem, pois sua modéstia, já em evidencia fez com que me avisasse de antemão dizendo: como alguém sem importância como eu, poderia oferecer ao leitor algo que merecesse atenção.
Olha! Deixa comigo, senhor Luciano, vai ver que não é bem assim, afirmei ainda: não tem ninguém sem importância neste nosso mundão.
Perguntei-lhe, para iniciarmos a entrevista, como começou a trabalhar no ramo de antiguidades.
Senhor Luciano passou a falar com voz grave de um europeu de classe, saliento, sem nenhum sotaque. Eu frequentava a Feira de Antiguidades do Masp, comprava algumas pecinhas, muito esporadicamente, era por gosto e pela estética, coisa que já trazia da infância. Quando cheguei da Itália, trouxe comigo na mudança, peças europeias de mobiliário junto com outras coisas, vim morar em casa onde tudo poderia se acomodar bem, até o momento que fui morar com minha esposa Ângela em uma casa menor e resolvemos vender alguma coisa. Foi assim que descobrimos que fazer vendas do tipo família muda-se era um bom negocio. Nos demos bem, minha esposa é uma talentosa vendedora, faz isso muito bem, não tem ninguém melhor que ela.
Foi assim que começamos, organizamos outras vendas contratados por famílias que decidiam vender seus pertences. Os eventos sempre foram muito bons.
Um belo dia surgiu à idéia de contratarmos um stand na Feira de Antiguidades do Shopping Iguatemi, foi a dezoito anos atrás, até hoje não paramos mais.
Senhor Luciano nos conta agora que era diretor de vendas em uma Companhia de Cerâmica, acrescenta o detalhe de que tinha muito sucesso em seu trabalho, a entidade por ele dirigida, vendia muito revestimento o produto era muito bom e valia a pena trabalhar com ele, mas devido ao plano Cruzado e Color ficamos com outras necessidades e acabamos, eu e minha esposa, por ficarmos somente no stand do Shopping Iguatemi.
Como eu já afirmei, ela é muito mais comerciante que eu e vende muito bem, para mim fica a tarefa de, com meu feeling, ajudar a encontrar boas peças, nós recebemos muita consignação, trabalhamos também com as almofadas, que são belíssimas e confeccionadas com todo esmero por minha esposa Ângela.
O antiquário Luciano Frigeiro, italiano de Toscana de família milaneza era muito ligado às artes, porem cênicas, todos seus antepassados eram atores de teatro e cinema. Desde 1500 e instalados nos carroções, percorriam toda a Europa fazendo apresentações. Sempre com muito sucesso tanto que os séculos foram passando e eles nunca pararam. Meu tio avo ficou muito famoso, ele se chamava Ermete Zacconi, era tão admirado, que foi considerado, o maior ator Europeu da época isso aconteceu entre 1860 e 1940. Meu tio esteve no Brasil mais de vinte vezes, aqui era também muito elogiado pela mídia da época.
E o senhor não quis ser ator também, perguntei ao senhor Luciano. Meu pai voltou da guerra, sabe, era uma época muito difícil, tinha estourado muitas guerras na Europa, guerra da Coreia, Árabes e Judeus, etc. Meu pai não quis me ver envolvido naquele mundo confuso e por mim acabou vindo para o Brasil em 1952.
Depois voltamos para a Itália onde viveu mais cinco anos, finalmente veio para o Brasil. Fui 1966 e voltei em 1971. É melhor viver aqui.

Olha Líbano! Quando eu era garoto, parece que eu não tinha nenhum juízo, mas queria brincar e não tinha nenhuma noção do perigo que corria eu brincava pelas ruas, hora andava, hora corria não tinha limites. Lá em Milão a cidade foi bombardeada mais de trezentas vezes, eu ficava curioso e corria atrás para ver os aviões, escutava aquelas explosões incríveis, não me amedrontavam em nada, mas eu queria ver tudo, era muito perigoso, terrível ao mesmo tempo.
Outra curiosidade, aos quatro anos eu estava na África, todos queriam me ver, as pessoas paravam para ficarem me olhando porque eu era a única criança branca na Etiópia.
Assim que voltamos para a Itália, naquele ano estourou a guerra mundial. Sabe? Para uma criança tudo era uma aventura.
Nesse momento chega até nós o pintor Caristina, antiquário que em breve terei oportunidade de entrevistar aqui no MuBe. Senhor Luciano assume a personalidade de grande gozador e me diz que ficou fã do grande pintor Caristina e acabou comprando mais de oitenta quadros dele e que é seu maior colecionador. Brincadeira, ele é meu amigo, afirma isso enquanto senhor Caristina se mata de rir. Tenho um quadro dele e muito bom, mas foi ele quem me deu de presente. Senhor Caristina juntou-se a nós atrapalhando a entrevista. Esse é um grande cara afirmou novamente Luciano Frigeiro.
Teve um caso de um pintor francês que eu comprei um quadro seu e que achei de vendê-lo passou um coreano na feira e eu vendi por cinco mil reais, ele nem pechinchou. Chegando a minha casa, de noite, me deu a idéia de ir pesquisar na internet sobre seu autor. Vi que em Londres valia cinco mil libras. Eu paguei e pelo preço que pedi, era bem barato mesmo, acabei por vendê-lo imediatamente, isso acontece.
Outro caso curioso que aconteceu foi o de um quadro cuzquenho, eu o reservava para o Dr. Raul isso por uns seis meses, vendo que ele não aparecia, trouxe-o para a feira e o vendi por mil reais, ai quando encontrei o Raul ele me disse que o quadro era muito importante, pois representava a Virgem de La Leche e na Bolívia valia deis mil dólares. Pronto deixei de ganhar mais de nove mil. É assim achamos uma peça, atribuímos um valor; colocamos nosso lucro e acabamos vendendo mesmo. Nesses casos não se pode voltar no tempo.
Eu não guardei nenhum acervo, fui vendendo aos poucos, meus filhos não se interessaram então o importante é ir vivendo, algumas coisas não são valiosas, mas trazem muitas lembranças. Hoje com meus setenta e seis anos tenho muitas saudades das experiências que vivi não vou pensar no futuro, pois isso é onde estou e no Brasil, aqui é difícil, viver sem ter acumulado alguma coisa, complicado, mas vai se levando.
Eu tenho muitas histórias para contar, gostaria de escrever um livro sobre minha vida, talvez as pessoas aprendessem um pouco o lendo. Mas não é esse o argumento agora. Se lembrasse os momentos de perigo e muito sério, sei lá. Olha Líbano alguma mão divina sempre me livrou.
Minha mãe separou de meu pai em 1939, fui morar com ele, era a lei, dizia que desfeito o casal o filho deveria ficar com o pai. Minha avó tinha um galpão lotado de roupas, mobiliário, para cenários, hoje não posso pensar assim, mas na época aquilo tudo me chamava à atenção, era criança, tinha muita curiosidade, eu mexia em tudo, aquelas antiguidades, parecia um monte de quinquilharias, uma montoeira de velharias. Mas era ali que ia brincar. Eu cheguei a brincar com pistolas de duelo, hoje as antigas e originais como aquelas custam uma fortuna e os colecionadores procuram muito, são raras, mas como ia saber o valor, eram para mim apenas bonitas e curiosas. Hoje se tivesse tudo aquilo! Era muita antiguidade, coisas que os atores usavam em cena. Minha avó era grande atriz, bonita, talentosa e muito famosa também
Acho que de tanto conviver com tudo aquilo eu fui me temperando, hoje não poderia ser outra coisa, só sobrou isso ser antiquário, ainda bem. Eu e minha esposa Ângela gostamos muito do que fazemos, trabalhamos juntos todos esses anos.
Acho ótimo!




LÍBANO MONTESANTI CALIL ATALLAH


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